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Cap08 – Os Ritmos – Livro – O que é o Forró? (2022)

Para melhor entendimento dos ritmos e suas células básicas, nos baseamos no Zabumba. Instrumento central da bateria percussiva, é o principal responsável pela base rítmica do Forró.

Imprescindível ponderar que a arquitetura dos ritmos africanos é composta pelo toque combinado de 3 tambores diferentes. Quando tiveram contato com as Bandas de Pífano, passaram a ser tocados com o Zabumba. Essa fusão da sonoridade de 3 instrumentos em um ‘simplificou’ e ‘formatou’ os ritmos.

A música brasileira em geral, e em especial os ritmos que compõem o Forró, têm uma origem comum, a mistura das influências: africanas (improviso das cantorias e a percussão), europeias (melodias e harmonias) e indígena (ritmo conduzido pela palavra em pulsos e a divisão rítmica binária). Essa mistura é a mãe da maior parte dos ritmos brasileiros, sendo o Lundu um dos mais antigos e, sem dúvida, o mais importante.

Para entender a origem dos ritmos que compõem o Forró, é necessário conhecer primeiro o Lundu.

Parte do livro: O que é o Forró? Um pequeno apanhado da história do Forró./ Ivan Dias e Sandrinho Dupan. 2022 ISBN978-65-997133-0-9
Projeto contemplado pela 2a Edição do Fomento ao Forró, da “Secretaria Municipal de Cultura” da cidade de São Paulo.

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Cap08.01 – Lundu – Livro – O que é o Forró? (2022)

Ritmo e dança que evoluiu a partir dos Calundus; nomenclaturas genéricas para os rituais e aglomerações com “Batuques, vozerias e danças dos pretos”.

Em meados do Século 18, na Europa, prosperava um novo formato de música, nas casas dos ricos, derivado de cantos teatrais e melodias operísticas, que eram similares na sua estrutura e tinham nomes diferentes em cada país.

O Lundu é um ritmo ancestral musical vindo da mistura da ‘imparidade rítmica’ dos Batuques com as Modinhas, gênero musical brasileiro/português, muito apreciado pela classe alta, executado por cantos acompanhados de Violas de Arame, Cavaquinhos e Bandolins.

A imparidade rítmica consiste em um grupo de fórmulas rítmicas na qual se misturam agrupamentos de binários e ternários, dando origem a períodos rítmicos pares com uma síncope característica. Fenômeno pouco difundido na música erudita europeia e natural nas músicas e ritmos africanos e árabes.

Essa síncope do Lundu ocorria nas melodias e no acompanhamento. Nas melodias, essa síncope preservava a influência árabe, através da música ibérica; e no ritmo a síncope tem clara origem africana.

O contato tropical da música ternária europeia e o ritmo africano binário, propiciou a miscigenação dos ritmos, a criação de um novo e contagiante gênero. A dança e a música aos poucos desenvolveram-se numa manifestação única e irresistível.

O Lundu dos brancos recebeu influências europeias do que havia de mais moderno na época: estrutura de tema e variação, improviso sempre presente para alongar as peças e dar visibilidade para os músicos, vozes leves e ágeis, poética estrófica, simetria, periodicidade e articulação das frases, com ou sem estribilho e comumente tinham uma temática de amor e romance.

Já dentre os negros e mestiços, o Lundu tinha características marcantes oriundas dos africanos, como os improvisos de canto e resposta, sátiras picantes, letras cômicas, jocosas ou de duplo sentido, bom humor e sensualidade nas expressões idiomáticas e nos trocadilhos em crioulo, dialeto do Cabo Verde, arquipélago africano usado como entreposto do tráfico negreiro.

Zabumba Lundu:

Os Batuques eram uma designação genérica para diferentes manifestações. Havia três tipos de Batuque:

Dos Calundus, a musicalidade brasileira herdou o ritmo, o compasso africano. Durante o século 17, os senhores de engenho e pessoas poderosas possuíam bandas de escravos que faziam música, tanto nas senzalas e nos terreiros, quanto nas salas de estar das casas grandes, festas da igreja e ocasiões festivas dos povoados, dominando um vasto repertório, erudito e popular.

O Lundu era tocado nas classes baixas, nas periferias, por pequenas bandas com temáticas tristes e lamentos. E nas classes mais abastadas com um viés mais romântico e poético, com grande influência das Modinhas.

Nessa época, surgia na Europa o conceito de concertos públicos e peças para 2 vozes e 2 instrumentos, o que influenciou também o Lundu e fez com que se espalhasse mais ainda por todo o nordeste. Em Pernambuco, a manifestação era mais rural, conduzida por dois tocadores de Viola e cantada no sistema de desafio, com versos de improviso, semelhante aos repentistas e emboladores atuais.

No final do século 18, o Lundu virou febre em Lisboa com sua música e sua dança. Ficou conhecido como a “Dança Venturosa” por conta das umbigadas.
Partiu de uma manifestação folclórica/religiosa (Semba/Calundu), passou a ser popular (Lundu-dança), ganhou erudição, foi apresentado nos grandes teatros e teve suas partituras aprimoradas pelos melhores músicos europeus da época (Lundu-canção), até voltar a ser popular (bailes populares).

Com a mudança da família real para o Brasil, em 1808, o rei tentou levar o máximo da modernidade para o Rio de Janeiro, importando artistas e professores de música e dança europeus. Fato que colocou mais tempero na mistura que já estava quente e cheia surpresas.

No início do século 19, surge o Fado, que aos poucos viria a tomar o espaço do Lundu na cena cultural europeia. Continuou existindo no Brasil no formato de Lundu-canção. O Fado e a Chula são os descendentes que o Lundu deixa no velho continente.

No nordeste, o Lundu deixou de existir nas cidades, mas sobreviveu no interior, passando por um processo evolutivo constante até ser resgatado e ressurge como um produto de mídia, usando seu apelido: Baião.

No início do século 20, quando a tecnologia de gravação e reprodução de áudio evoluiu e chegou ao Brasil, permitindo que discos fossem gravados, produzidos e publicados em território nacional, o Lundu ainda estava em alta, tanto que foi escolhido para a primeira gravação brasileira.

Parte do livro: O que é o Forró? Um pequeno apanhado da história do Forró./ Ivan Dias e Sandrinho Dupan. 2022 ISBN978-65-997133-0-9
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Cap08.02 – Samba – Livro – O que é o Forró? (2022)

No Brasil colonial, o nome Samba era utilizado para denominar o encontro musical e de dança do Calundu. Em Angola, “Kusamba”, significa “rezar” ou “celebrar”.

No Congo, Samba significa “Dançar a dança da divinação”. Hoje podemos observar semelhanças desses rituais no Jongo, onde as pessoas cantam, divertem-se, rimam, comunicam-se, batucam e dançam, eventualmente, até atingir a epifania.

Com o tempo, e já sem o caráter religioso, os Sambas passaram a ser chamados também de Forrobodós, Arrastapés e Pagodes.

De forma que a festa ancestral Samba e o ritmo Samba atual são coisas muito diferentes. Naturalmente, a musicalidade que ocorria nos Calundus do século 17 deu origem a toda a musicalidade brasileira.

Entretanto, a origem etimológica também encontra fundamento a partir da música e da dança ritual do Semba.

Em Angola, o Semba era um tipo de música e um tipo de dança de celebração, executadas em comemorações, como casamentos, nascimentos, pedidos de boa colheita e em cultos à Deusa das Águas.

As movimentações retratavam a vida de casado, por isso possuíam o viés sensual/erótico. Elementos dessa e de outras danças se misturavam e faziam parte da dança do Lundu, que era uma prática recreativa e social nos Sambas.

O Lundu reúne em si, anos e anos da musicalidade brasileira, coreografias e movimentações do Semba, misturados com elementos de diversas danças e músicas africanas da região do Congo e Angola, que eram levemente diferentes de tribo para tribo, de região para região, mas sempre similares na imparidade rítmica.

Zabumba Samba:

Em meados do século 19, em São Paulo e Rio de Janeiro, o Lundu, também denominado de Chorado, miscigenou-se com a Polca e, passando pelo Maxixe, evoluiu para o ritmo que conhecemos hoje como Samba.

Antes disso, as nomenclaturas Maxixe, Forrobodó e Chinfrim, eram sinônimos para o baile em habitações modestas, nas quais as pessoas lotavam as pequenas salas e ficavam apinhadas, assim como as sementes no fruto do Maxixe.

Simplificando ao máximo, podemos dizer que o ritmo Samba é filho do Lundu, que por sua vez é filho do Semba e dos Calundus.

Em diferentes estados brasileiros, recebeu variadas influências e em cada lugar adotaria múltiplos ‘sotaques’. Usar a palavra sotaque para essa definição é apenas uma metáfora, pois, ritmicamente o Samba é sempre Samba, com variações e diferentes andamentos.

Samba de Coco, de Roda, de Breque, Enredo, Samba-canção, Choro, Samba-rock, de Partido Alto, Sambalanço, Samba Matuto, de Gafieira, Bossa Nova, Pagode, Maxixe, Carioca, Paulista, Sambandido, entre outros.

Com o aparecimento de novos ritmos miscigenados que também se auto intitulavam Samba, as manifestações tradicionais com características do Lundu, como o Samba de Roda, assumiu a definição: ‘…de Roda’ para se diferenciar das derivações que passaram a surgir.

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Cap08.03 – Coco – Livro – O que é o Forró? (2022)

O ritmo Coco é remanescente direto do Lundu. Tornou-se a base para a construção de boa parte da música brasileira. Chamamos de Coco hoje, mas podemos notar, preservadas em manifestações contemporâneas, muitas semelhanças com o Lundu que era tocado e dançado no final do século 18 e início do século 19, em cada estado o ritmo se misturou e evoluiu de diferentes formas.

Os Bantus, durante séculos, não tinham escrita e a cultura era passada oralmente de geração para geração. Essa habilidade natural de cultivar as palavras e o hábito de debater e de trocar informações fez com que, dentro do cativeiro, proibidos de falar em outro idioma que não o português, nos cantos de trabalho ou lazer, usando estrutura de canto e resposta, surgissem letras de improviso, desafios com trocadilhos, metáforas e temas subentendidos que iludiam os seus captores.

A partir da segunda metade do século 16, nos quilombos, as populações eram compostas por negros, mulatos, cafuzos, mamelucos, indígenas e brancos. Os ex-escravos de origem africana misturaram seus ritmos, sua percussão e sua dança, com melodias e harmonias europeias, acrescidas das influências das cantorias, Flautas e percussões dos indígenas brasileiros.

Na Paraíba e em Pernambuco, era chamado de Samba de Coco e com o tempo evoluiu para apenas Coco, evoluiu a partir de um canto de trabalho, com estrutura de canto e resposta, acompanhado por percussões diversas.

Coco de Mestre Benedito:

Nas suas formações ancestrais, normalmente a instrumentação era composta por 3 tambores de diferentes tamanhos e timbres, que fazem Vozes e figuras distintas, e quando tocados concomitantemente, dialogam e se complementam, formando o ritmo.

A nomenclatura Coco é genérica, significa dança, encontro, música e a “brincadeira” que, dependendo das influências regionais, ganhou quatro tipos de variação:

Coco Caiana dos Crioulos

Existem inúmeras maneiras de se dançar o Coco, em diferentes locais com nomes diferentes. Pode também ser dançado em pares enlaçados, mas ainda se dança o Coco de uma forma similar às danças ancestrais africanas, com elementos do Semba, como a formação em roda e as umbigadas.

O Coco normalmente é associado ao paraibano Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo. Antes de ir para cidade de Campina Grande, ele absorveu esse conhecimento ancestral durante sua infância, pois cresceu frequentando as rodas de Coco da região do Brejo Paraibano. Herança cultural de sua mãe, coquista e ex-quilombola, com quem teve suas primeiras vivências musicais.

Antes de Jackson, o Coco vinha “se tornando social” (urbano), permeava dos terreiros de fazendas e engenhos para ser absorvido pela urbe. Sua célula rítmica básica seria simplificada, ou resumida. Era tocado com Ganzás, Alfaias, diferentes Tambores, palmas e o Trupé (percussão corporal).

Zabumba Coco:

Jackson introduziu e adaptou instrumentos modernos, tanto harmônicos quanto percussivos (principalmente o pandeiro) ao seu estilo inigualável de cantar Coco. Foi responsável pela ‘urbanização’ do ritmo Coco, que hoje tem sua imagem muito associada ao Pandeiro, por conta dele.

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Cap08.04 – Baião – Livro – O que é o Forró? (2022)

Baião é a abreviação da palavra “baiano”, gentílico de quem nasce na Bahia, importante estado nordestino, berço da identidade cultural da nação.

O Baião tem sua origem no Lundu, ritmo e dança que se espalharam, em meados do século 18, a partir do recôncavo baiano, subindo o Rio São Francisco, por todo interior nordestino. Dessa forma, o Lundu, por ser um ritmo vindo do litoral, era chamado de Baiano. Com uma simples corruptela chegou-se ao nome Baião.

Triângulo Baião: (toque comum para a maioria dos ritmos)

Ritmicamente, a célula básica do Lundu foi simplificada durante o processo de adaptação da sonoridade dos 3 tambores rituais africanos para apenas um instrumento, passando primeiramente para o Melê e em seguida para o Zabumba. Durante séculos foi lapidada e evoluiu até chegar hoje ao que conhecemos como ritmo Baião.

Gilberto Gil, regravou em 2001, no álbum “Viva São João”, ao vivo, a música “De onde vem o Baião”. O interessante é que o acompanhamento instrumental, ritmicamente, lembra mais os Lundus antigos do que os clássicos Baiões de Gonzaga. O que nos leva a crer que nesse arranjo Gil estava querendo nos mostrar exatamente de onde vem o Baião.

Luiz Gonzaga é considerado o criador do ritmo Baião, por ter formatado, urbanizado, sido o primeiro a gravar o ritmo e o seu principal difusor. Até então, não era considerado um gênero musical. Entretanto, era uma expressão que já existia e vinha evoluindo há algumas gerações antes dele nascer.

O Baião foi um dos nossos primeiros produtos de mídia. O Lundu-canção já existia e havia caído em desuso, de forma que esse “novo” nome foi usado para repaginar, lapidar e vender o produto, assim inventando uma moda nacional.

Após muitas experiências com diferentes instrumentos para acompanhar o acordeon, “Seu Lua” trouxe da sua memória afetiva de criança a base dos Ternos de Zabumba, as Bandinhas de Pífano de sua infância, sua musicalidade e sua mobilidade.
Ele observou o equilíbrio sonoro da formação musical da Chula Portuguesa e depois de algumas experiências com diferentes instrumentos percussivos, concluiu que a formação mínima para se tocar Forró é “Sanfona, Zabumba e Triângulo” – o famoso “Trio de Forró”.

Zabumba Baião:

Já no final dos anos de 1940 e durante a década de 1950, o Baião foi exportado para o mundo, em filmes brasileiros e estrangeiros. Foi registrado em inúmeras gravações de bandas e orquestras de todos os continentes, influenciando gerações. Na década seguinte, o Baião perdeu espaço para a Bossa Nova e o Rock-and-roll, ficando restrito aos bailes e ambientes das festas e casas de Forró.

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Cap08.05 – Xote – Livro – O que é o Forró? (2022)

O ritmo Xote é uma evolução do ritmo Schottisch, uma das variações regionais europeias da Polca, vindo da Escócia e também conhecido como Polca Alemã. É apresentado por um grande número de casais, mistura as formações e coreografias das Contradanças, o formato de condução da Valsa e o ritmo binário da Polca, muito apreciada pela aristocracia europeia da época.

Originalmente o Schottisch era dançado em grupo, com vários pares e uma coreografia comum com muitos giros e figuras. Recebeu influências do Lundu, virou Xote e passou a ser dançado juntinho, com os casais independentes uns dos outros.

Zabumba Xote:

O ritmo chegou ao Brasil com os operários ingleses, escoceses e irlandeses que vieram trabalhar nas estradas de ferro, a partir de meados do século 19. Primeiro conquistou as grandes cidades e logo foi absorvido pelas festas e bailes populares, nos quais se tocavam vários ritmos e todo mundo dançava.

Parte do livro: O que é o Forró? Um pequeno apanhado da história do Forró./ Ivan Dias e Sandrinho Dupan. 2022 ISBN978-65-997133-0-9
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Cap08.06 – Arrastapé – Livro – O que é o Forró? (2022)

Mais um ritmo que tem a Polca como ancestral, com influências do Lundu e dos Dobrados e Marchas Militares. O ritmo foi batizado com um nome que já estava presente no vocabulário coletivo, pois Arrastapé era sinônimo popular dos Forrós, o que já associou uma bagagem positiva ao nome. É também frequentemente denominado como Marcha ou Marchinha Juninha.

Nas Festas Juninas, a Quadrilha é dançada ao som do Arrastapé. A origem das festas é curiosa, pois também vem da fusão de costumes, crenças nativas e dos colonizadores.

Ancestralmente, em diferentes países do hemisfério norte, muitos povos acendiam grandes fogueiras e faziam cultos à vida e à fertilidade, pedindo boa colheita. Essas festividades aconteciam durante o solstício de verão, o dia mais longo do ano, que costuma ocorrer próximo ao dia 20 junho. Concomitantemente, os povos originários brasileiros faziam festas anuais em comemoração à boa colheita, com cantorias, música, fogueira, dança e muita comida.

Triângulo Arrastapé:

Zabumba Arrastapé:

Na Europa, a igreja, percebendo que não conseguiria mudar radicalmente os costumes pagãos, cristianizou aqueles rituais, associando as festas pagãs do solstício ao santo “junino” João Batista.

Essa adaptação funcionou também no Brasil, fazendo com que o caráter religioso e os costumes indígenas se fundissem. As festas celebram os santos católicos Antônio, João e Pedro, e oferecem comidas indígenas típicas feitas a partir do milho, como curau, pamonha e cuscuz, por exemplo.

O nome Quadrilha vem de “Quadrille”, uma dança francesa que foi muito difundida pela aristocracia e burguesia francesas do século 18. Originalmente a dança era praticada por quatro casais, em sequências de movimentos coreografados, enquanto dois casais dançavam, os outros dois esperavam lateralmente, e por alguns momentos os quatro casais dançavam ao mesmo tempo, numa formação quadrangular, formando a Quadrilha.

No Brasil, Quadrilha é apenas uma nomenclatura para uma evolução das Contradanças (ritmos ternários e binários), versão portuguesa das “Country-Dance” inglesas, praticadas nas festas da aristocracia do século 18. Com o tempo, a dança fundiu-se com as festividades populares juninas e passou a ser dançada por um grande número de casais, no compasso binário do Arrastapé.

A igreja formatou a temática da festividade e misturou elementos e figuras das danças indígenas, como Toré, Cururu, Cateretê e a Catira, entre outras, com as Contradanças, nas quais os pares formam círculos, filas e colunas, entre outras figuras, em movimentações e evoluções coreografadas.
Além das Festas Juninas, o Arrastapé também é tocado e dançado nos bailes de Forró e tem o passo básico mais simples de todas as danças de salão.

O passo básico do Arrastapé pode ser dividido em 4 movimentos: pé direito à frente, esquerdo à frente, direito para trás e esquerdo para trás. Sempre com a marcação de “um-um”. Direita, esquerda; direita, esquerda; direita, esquerda… Pode ser apenas marcado sem necessariamente deslocar-se do lugar, assim como pode receber giros e movimentos livres.

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Cap08.07 – Xaxado – Livro – O que é o Forró? (2022)

Conhecido como o ritmo dos cangaceiros. Originalmente era tocado apenas com versos cantados e repetidos pelo coro, acompanhados por uma Viola ou mesmo sem acompanhamento harmônico, o ritmo era marcado pela coronha dos rifles, batidos no chão.

Para entender o Xaxado é relevante saber o que foi o cangaço. Os cangaceiros eram integrantes de grupos de bandoleiros, guerreiros organizados hierarquicamente como soldados, atuantes no nordeste brasileiro entre 1750 e 1940.
Na era do cangaço foi muito forte o banditismo social, o messianismo e o coronelismo, em que ‘revoltosos’ (cangaceiros) viviam de saques a mão armada e sequestros atendendo demandas de coronéis e políticos. Nômades, deslocavam-se por matas e caatingas da região, acampando em locais isolados ou em terras de “coiteiros”. Nesses assentamentos, havia música e dança, e a poeira levantava.

Coiteiro era a denominação atribuída a pequenos proprietários de terra que induziam o escravo alheio a fugir, abrigando-o, escondendo-o e dando-lhe trabalho. E assim também eram chamados os cúmplices e padrinhos dos cangaceiros.

Triângulo Xaxado:

Existem relatos de que o mais famoso personagem desse capítulo da história brasileira, Lampião, tocava a Sanfona de 8 Baixos.

Xaxado é o ritmo. Pisada é a dança. Inicialmente era uma dança exclusivamente masculina, pois não havia mulheres no cangaço. Os homens dançavam com as armas em substituição às damas.
Zabumba Xaxado:

A dança misturou características de sapateado do Fandango Espanhol, formações e figuras indígenas, movimentações do Coco e num processo de ressignificação, a coreografia básica da Pisada encontrou sua inspiração no plantio do feijão.
Usando um dos pés como apoio, com o outro pé dando dois passos à frente e uma puxada lateral. Esse seria o mesmo movimento de deslocar, semear, cobrir a semente (com o movimento lateral), andar mais dois passos e plantar mais uma semente.

O uso para essa movimentação no dia a dia, era de inverter o calçado e se deslocar de costas apagando as pegadas do grupo, tática usada pelos cangaceiros para evitar o rastreamento da polícia. O último homem da fila tentava apagar, ou pelo menos não deixar claro para que lado o bando se dirigia, em ardil de despiste.

Teorias que se complementam, pois embora os cangaceiros não plantassem e nem cultivassem a terra, eles observavam as pessoas em suas labutas. A inspiração viria do plantio, mas a aplicação no dia a dia pode ter sido por sobrevivência.

O nome Xaxado tem várias origens possíveis, uma delas é da onomatopeia, o efeito sonoro dos pés arrastando no chão (xa, xa, xa, xa…).

Outra possível origem, tanto para o nome quanto para a dança, é do ato de separar, com o pé, os grãos da palha. Xaxar o feijão. Após a colheita o agricultor deixa as vagens do feijão secarem ao sol e depois disso bate nelas com o pé, em movimentos ritmados de um lado para o outro.

No cangaço, as letras e versos das músicas tinham sempre a temática sobre a derrota de seus inimigos e as glórias das batalhas. Durante as batalhas, os combatentes usavam gritos de guerra para encorajar os companheiros de bando, sendo chamados de ‘parraxaxá’, muito similares às primeiras letras e versos do Xaxado.

Algumas tribos brasileiras também tinham esses gritos de guerra, com guerreiros “cantores” especializados, muito respeitados por onde passavam. O cantor ser respeitado é uma temática comum em letras de Forró dos anos de 1950 e 60.

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Cap08.08 – Forró – Livro – O que é o Forró? (2022)

É o nome de um conjunto de ritmos e é também um desses ritmos. É um dos ritmos mais recentes, tendo recebido influências dos anteriores.

Até a década de 1950, o nome Forró era usado apenas para nomear a festa, a dança e o conjunto de ritmos. Com a chegada de Jackson, Forró passou a ter mais um significado: o nome de um dos ritmos.

Jackson do Pandeiro atuou em diversas cenas musicais. Passou a infância acompanhando sua mãe nas rodas de Coco, morou em cinco cidades e tocou em inúmeros ambientes, nos quais recebeu diferentes influências musicais e rítmicas. Passou por diferentes rádios e fez parte de muitos conjuntos até despontar na sua própria carreira.

Zabumba Forró:

Isso embasa uma afirmação que ele fez sobre o ritmo Forró, do qual se auto intitula criador. Segundo suas palavras: “Foi em 1950, quando durante uma gravação mandei que o Violão tocasse Choro, o Cavaquinho Samba e o Bumbo tocasse Baião. ”
Na época, mais uma vez, uma palavra que habitava o subconsciente coletivo, como denominação da festa, passou a nomear um ritmo. Essa mistura quebrou paradigmas, foi lapidada e depois de algum tempo, evoluiu para o que hoje conhecemos como o ritmo Forró.

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Cap08.09 – Rojão – Livro – O que é o Forró? (2022)

O nome Rojão era usado no século 16 para definir os prelúdios e interlúdios (peças musicais instrumentais que precediam ou intercalavam as peças principais) dentro de um espetáculo teatral ou musical.

Os Rojões continham uma estrutura simples e repetitiva, na qual os músicos ‘aqueciam’ os instrumentos e os dançarinos se preparavam para entrar em cena.

Com o passar do tempo, esse nome ficou no imaginário popular e passou a ser utilizado para denominar o toque sincopado e cadenciado da Viola dos repentistas, entre um verso e outro.

Instrumentos Rojão:

Somente em meados do século 20 o Rojão passou a ser registrado em forma de ritmo. Tem a estrutura rítmica muito semelhante ao Forró, se diferencia com a incorporação de alguns instrumentos, como o Cavaquinho e o Pandeiro, responsáveis por uma célula rítmica do Samba, enquanto os demais instrumentos básicos (Sanfona, Zabumba e Triângulo) mantém a célula rítmica do Forró.

Essa variação surgiu quando os forrozeiros nordestinos começaram a entrar em estúdio para gravar suas músicas, passando a ser acompanhados pelos instrumentistas de cada gravadora, cuja maioria vivia no Rio de Janeiro, tocando e gravando Samba. Tal circunstância faria com que o “sotaque sambista” acabasse influenciando o resultado final das gravações da época.

Dessa forma, o Rojão é uma variação simples do Forró: um Forró sambado.

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