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Saudades de Café com Leite

Recebemos esse texto do Jonas Duarte, professor doutor do Departamento de História da UFPB, em João Pessoa – PB. (Texto escrito em 10/06/2008)

cafa-com-leite (Foto extraída do livro/biografia do Jackson)

“Hoje, 10 de julho, marca o desaparecimento físico de dois dos maiores artistas brasileiros. Rosil Cavalcanti e Jackson do Pandeiro. Rosil e Jackson formaram uma unidade sonora, expressando a alma brasileira, em especial a nordestina.

Rosil veio para Paraíba, de Macaparana, Pernambuco, logo cedo. Atrás de estudo e trabalho. Trouxe consigo o brejeirismo e a poesia daquelas encostas chuvosas da Borborema sudeste, coalhada de pequenos produtores de banana e mandioca. Culto e talentoso, dono de uma forma poética típica da nossa “nordestinidade”, que se algum crítico, algum dia procurar caracterizar, rotular, necessariamente falará de um “realismo nordestino”. Suas músicas eram crônicas da vida do povão dos agrestes, brejos e sertões do Nordeste. Em suas narrativas, muito de comédia e drama; de João Grilo e Djacyr Menezes; de Zé da Luz e Zélins; de Zé Limeira e Gilberto Freyre. Seus forrós, baiões, rojões ou lamentos eram a expressão rítmica da vida nordestina.

Jackson do Pandeiro nasceu José Gomes Sobrinho, em Alagoa Grande, Paraíba. Foi durante um tempo Jac (influência dos bang-bang estadunidenses da época), mudou-se para Campina Grande cedo em busca de trabalho. Carregava balaios de pães na cabeça entregando das padarias nas bodegas de alguns bairros. Muito pobre era moleque de rua durante o dia e Bedegueba (palhaço) de Pastoril à noite. Vivia nos cabarés da feira central de Campina. As donas dos cabarés lhes davam guarida, dormida e comida. Já se percebia o talento, a ginga.

Nos anos 40, Rosil e Jackson se encontraram na capital paraibana. Formaram a dupla Café com Leite na Rádio Tabajara. Café era Jackson (negro, descendente dos crioulos da Caiana, do quilombo de Alagoa Grande), Leite era Rosil, sua pele branca justificava o apelido. Nascia o imponderável. Jackson já era artista do povo daqui e queria ser artista do Brasil. Rosil era um poeta, que nas horas vagas se dedicava àquela arte.

Jackson seguiu em busca de seu destino. Foi para Recife. Rosil seguiu para Campina Grande, onde foi trabalhar como fiscal de renda, fiscalizando a qualidade do algodão comercializado na “Liverpool das Américas”, como chamavam Campina na época. Campina era a potência econômica de todo Nordeste. Ali sempre estava cheio de gringos e paulistas. Vinham em busca do “Ouro branco” dos sertões. Campina tinha um ar metropolitano em comparação as pequenas cidades espalhadas Nordeste adentro. Era uma extensão de Recife. O trem que transportava o algodão e as riquezas paraibanas ligava Campina a Recife, via Itabaiana. Daí que, em Campina se respirava muito dos ares cosmopolita recifense. Ao mesmo tempo Campina recebia o sertão diariamente. Levas de sertanejos almocreves transportavam sua produção e sua cultura ao entroncamento da Borborema. Ali se vivia um clima propício à poesia. Ali efervescia um movimento cultural espontâneo, síntese de uma região, que no processo de industrialização nacional se amoldava como a parte “atrasada” de um capitalismo desigual e combinado que se configurava no Brasil, seguindo os moldes do capitalismo mundial.

Em Campina, Rosil não continha seu impulso artístico. Foi trabalhar na rádio Borborema. Criou um programa de noticiário policial Radar, ancestral de qualidade desses folhetins deploráveis que se tornaram os boletins polícias das emissoras de rádio de hoje em dia, apenas expressando a situação também deplorável que se vive no “submundo” do crime. Mas, o grande sucesso de Rosil foi o “Forró do Zé Lagoa”. Programa de forró que animava as noites de toda a Borborema. Do Cariri ao Brejo, onde chegavam as ondas sonoras em Amplitude Modulada (AM), da Rádio Borborema. As pessoas paravam para ouvir o Zé Lagoa. O aparelho de rádio se popularizava em Campina Grande e em seus arredores e Zé Lagoa (Rosil Cavalcanti) era a estrela maior. Sua audiência era total. A Rádio Borborema tinha auditório e o Programa era transmitido do auditório, ao vivo. Ali se fez concurso de sanfoneiro, de dançarino, de beleza, de teatro, etc. Na realidade era uma rádio-teatro. Rosil tinha um carisma impressionante e cativava todos e todas. Os artistas famosos da Rainha da Borborema e de todo o Nordeste tinham presença garantida nos finais de semana. Campina virou uma espécie de centro da cultura regional.

Rosil não parava de compor. Certo dia enviou para o amigo Jackson, uma “brincadeira” musical para Jackson “improvisar” em suas apresentações quase sempre frustradas na rádio Jornal do Comércio. Nesse dia Jackson se soltou. Entrou no palco com a ginga dos sambistas que conheceu no “Zepa”, em Campina Grande, com os ritmos das coquistas de seu quilombo em Alagoa Grande, com as mugangas dos tempos de Bedegueba em cima de caminhões em pastoris por Queimadas, São José da Mata, Bodocongó, Ligeiro, Barracão de Luiz de Melo, etc. Entrou com um pandeiro na mão e gritou: Convidei a cumade Sebastiana pra dançar um xaxado na Paraíba. Ela veio cum uma dança diferente pulava qui só uma guariba e gritava A, E I, O, U ipsilone. Nesse dia nasce Jackson ou JackSOM do Pandeiro. O sucesso da “Cumade Sebastiana” que recebeu o título de Sebastiana foi tanto que em pouco tempo, os palcos de Jackson eram no Rio de Janeiro e São Paulo. A música do Nordeste deixou de ser só o Baião do Lua do Nordeste, o Gonzagão, para ser também: o Rojão e o Forró; o Coco. Jackson vai “empareiar-se” com Gonzaga em termo de sucesso, de apelo popular. Vai fazer sombra ao Lua do Sertão. Gonzaga já abrira as portas da Indústria Fonográfica para a música originária da parte “atrasada” do Brasil. Jackson escancara.

Rosil não deixara Campina. Ali havia criado raízes. Sentia-se em casa. Era de fato, sua casa e sua família. Nas madrugadas de sextas, sábados e/ou domingos ele juntava uma trupe e ia caçar em alguma fazenda próxima a Campina. Nessas caçadas de nhambu, caçava também talentos e, sobretudo, a alma popular nordestina. Nessas caçadas Rosil encontrou os sanfoneiros Pedro Mendes, Diomedes, Josinaldo, Chicó e tantos outros que ele levava para as apresentações em seu Programa. Também promoveu os forrozeiros de Oito Baixos e cantores da mais autêntica música brasileira, produzida ali entre os penhascos da Borborema. Vivia-se a época de ouro do Forró.

Em suas fugas, Rosil preferia o Cariri. Tinha um cantinho preferido na Vaca Brava ou Tôco do Pade, hoje Campo de Emas, onde nasci, vivi e retorno quando posso. Lá, Zé Lagoa, como o chamavam, enrolava seus amigos, dizendo-se caçador, dava uma volta e apreciava a paisagem caririzeira. Voltava antes de todo mundo, tomava uma “bicada” na “Bodega de Hemetério” e armava uma rede, sempre limpa e pronta para o Zé Lagoa, sob a sombra carinhosamente organizada pelos galhos de uma Quixabeira e de um Umbuzeiro, entrelaçados. Parece, sabiam as árvores, que ali estava um ramo seu, um poeta de suas dores e alegrias. O chão sempre limpo, pois rodas de aprendizes de sanfoneiros e sanfoneiros já premiados se “aprochegavam” à Rosil para criarem versos, músicas e brincarem ao dedilhar da sanfona de Pedro Mendes. Ali nasceu Meu Cariri e Aquarela Nordestina, duas das mais lindas canções de Rosil. Suas andanças nas terras caririzeiras também o instigaram à Festa do Milho e diversas outras que fizeram e fazem nordestinos chorarem Brasil afora.

No dia 10 de julho de 1968, no início da tarde, Rosil se sentiu mal quando descansava sob a sombra do Umbuzeiro e da Quixabeira. Pediu um chá para “desempachar”, reclamou mais uma vez do mal-estar e anunciou: vou pra Campina, não estou bem. Na noite daquele dia, como em todos os outros, moradores, trabalhadores rurais, fazendeiros e a população daquela área em geral se aglutinava nas casas onde havia um Rádio, daqueles grandes, a bateria, pra ouvir o Forró de Zé Lagoa. Em vez da música introdutória na voz vibrante de seu parceiro Café, dizendo: se você não viu, vá ver que coisa boa, em Campina Grande, o Forró do Zé Lagoa, se ouviu uma fúnebre anunciando o falecimento do poeta da caatinga, dos cariris, do Nordeste. O Nordeste parou. Campina Grande assistiu a mais profunda comoção que a atingira. Desaparecera subitamente sua síntese poética, suas alegrias e suas tristezas. Os contornos da feira central ficaram sem graça. A feira da Prata perdeu o charme. Macambiras e xiquexiques murcharam. Juritis, asas brancas, ribaçãs arribaram. O povo, a população simples e pobre das periferias de Campina e dos municípios visinhos se encerrou em luto. Campina Grande não comportou a quantidade de pessoas para o último adeus ao poeta que a cidade adotou.

Jackson continuou sem Rosil. Cantou composições de dezenas de outros compositores e muitas suas, que ele não assinava. Cantou o samba nordestino, urbano, da malandragem da periferia do Zepa, de Bodocongó, da Liberdade, do Serrotão e uma diversidade de crônicas riquíssima da vida nordestina. Viveu 15 ou 16 anos sem sua mistura preferida. Num 10 de julho do início dos anos 80, voltam a se misturar noutra dimensão. Jackson volta a encontrar Rosil. Certamente as paisagens cantadas, as histórias narradas, as caricaturas e brincadeiras da cultura regional voltou a ser matéria prima do Café com Leite. A 40 anos da morte de um e 25 da do outro, tenho a impressão que a lacuna deixada por eles ainda não fechou, nem fechará. As estripulias do Bedegueba de pastoril que conquistou o Brasil que formava uma unidade indissolúvel com a pureza da poesia de Rosil desandaram por um tremelique sem graça, como pacote comercial: hermético, fechado, sem poesia, sem a malicia deliciosa dos personagens de Ariano; sem a alma criativa de Zé da Luz; sem os absurdos extravagantes e maravilhosos de Zé Limeira; sem a alma nordestina.

Venceu a imbecilidade do mercado!

Mas a dupla está mais presente do que nunca entre os amantes da boa música. A tecnologia que é usada brutalmente para ferir a cultura popular, também nos permite ouvir Jackson do Pandeiro, sentir o gingado, a malandragem do povão de Campina, do Nordeste, do Brasil. É possível matar a saudade de Rosil Cavalcanti ouvindo o próprio Jackson, mas também Gonzaga e uma diversidade enorme de sons. Pois é, dia 10 de julho é um dia fatídico para a cultura popular nordestina, mas é também o dia de reencontro, da mistura perfeita do Café com Leite.

José Duarte – Forró em Quizambú

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Colaboração do DJ Black, cremos que esse é o primeiro disco do Zé Duarte, quando ainda se auto intitulava ‘José Duarte’, um ano antes de estar à frente d’os 3 Nortistas’, observem que o zabumbeiro é o mesmo.

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Tinha uma das faixas que estava com um risco fundo e não consegui arrumar de jeito nenhum. Alguns dias depois, casualmente, estava conversando com o DJ Rogérinho e ele prontamente me emprestou outro exemplar desse disco pra completar essa publicação.

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Todas as faixas são de autoria do Zé Duarte, algumas em parceria com José Ferreira de Souza, na época desse disco, a formação do conjunto era: Galego do acordeon, Divo zabumbeiro, José Duarte e Mariazinha.

O DJ Black destacou a música “O amor é casamento” de José Duarte Filho.

José Duarte – Forró em Quizambú
1980 – Iracema

01 Amor demais (José Duarte Filho – José Ferreira de Souza)
02 Forró pulandinho (José Duarte Filho)
03 Festa de reis (José Duarte Filho)
04 Só promessas (José Duarte Filho)
05 A rainha do mar (José Duarte Filho – José Ferreira de Souza)
06 Um beijo amor (José Duarte Filho – José Ferreira de Souza)
07 Cabra presepeiro (José Duarte Filho – José Ferreira de Souza)
08 Festejando São João (José Duarte Filho – José Ferreira de Souza)
09 Começo do forró (José Duarte Filho – José Ferreira de Souza)
10 O amor é casamento (José Duarte Filho)
11 Saudade de você (José Duarte Filho)
12 Forró em Quizambú (José Duarte Filho)

Para baixar esse disco, clique aqui.

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CD – Oswaldinho do Acordeon – Forró novo

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Colaboração do Omar Campos, produtor musical e multi-instrumentista que acompanha o Oswaldinho nos seus shows, mundo a fora, pelo menos nos últimos 15 anos.

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Um disco que, aqui no Brasil é praticamente inédito. Foi gravado na Alemanha e lançado somente por lá. A última faixa, segundo Omar, foi composta e gravada de ‘improviso’ no estúdio, nos 44 minutos do segundo tempo.

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Um encarte muito rico em informações, tentando situar para os gringos do que se trata o forró. No encarte tem uma mini-biografia do Oswaldinho que resume e conta um pouquinho da vida dele.

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Acima Borel, Oswaldinho e Durval.

Fiquei com esse disco em minhas mãos apenas por um dia, então captei o máximo de imagens possível. Dentro do arquivo tem todo o encarte e suas informações.

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O que esse disco tem de mais interessante é o fato de ter duas linhas de mixagem, onde uma, mais tradicional, claramente evidencia o formato trio de forró: sanfona, zabumba e triângulo e a outra é um pouco mais democrática, abrindo espaço para a genialidade de seus instrumentistas, com maestria.

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Virtuosismo, técnica apuradíssima e muito bom gosto, sem demagogia, é um dos melhores álbuns intrumentais e de forró que já ouvi!

Oswaldinho do Acordeon – Forró novo
1997 – Piranha

01. Baião (Luiz Gonzaga)
02. Concorde (Dominguinhos)
03. Guada e Live no forró (Dominguinhos – Guadalupe)
04. Vira e mexe (Luiz Gonzaga)
05. Um Tom para Jobim (Oswaldinho Do Acordeon – Sivuca)
06. Paraiba, mulher macho (Luiz Gonzaga)
07. Bom e bonito (Oswaldinho Do Acordeon)
08. Oito baixos (Oswaldinho Do Acordeon)
09. Nilopolitano (Dominguinhos)
10. Segura as calças (Oswaldinho Do Acordeon)
11. Sorriso de Samantha (Oswaldinho Do Acordeon)
12. Forró em Timbaúba (Dominguinhos)
13. Forrozando em Berlim (Oswaldinho Do Acordeon)

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