Texto – Minha casa é o Nordeste

*Texto enviado pelo Jairo Melo, de Vicência – PE

“Seu Dotô venho hoje aqui
Pro mode o sinhô ouvir
Eu relatar minha morada
Sei que o sinhô não a conhece
Mas pensa que ela padece
De uma sina desconsolada

Tá certo que houve um tempo
Que minha casa era um relento
Água? Nem lá chegava
O sofrimento era profundo
Mas não tinha lugar no mundo
Que mais me aconchegava

Era uma casa esquecida
Abandonada, ressequida
Alguns saíram de lá
Pra viver de ilusão
Sofrer discriminação
Lisos, sem poder voltar

Como dar voltas o mundo, né Dotô?
Repare o quanto mudou
Daqueles dias pra cá
Tá tudo bem diferente
Mesa farta, água corrente
Ninguém quer mais sair de lá

Já tem gente se aprochegando
E um arrêgo procurando
Querendo se hospedar
Lá em casa tá assim
Tem pro Dotô e pra mim
E pra quem mais precisar

O sinhô lembra da tal mudança?
É que toda vida houve esperança
Das coisa lá melhorar
E o tempo foi-se passando
O Sinhô DEUS iluminando
E hoje tá como tá

Lá em casa, Dotô, tem sentimento
Se um sofre, todos ficam sofrendo
Tem apêgo na minha família
Lá tem solidariedade
Tem também humanidade
Repare só que maravilha

Nós somos religiosos
De muitos Santos devotos
Como São Pedro e São João
Quem não foi canonizado
Mas se a nós tem ajudado
Também temos devoção

Isto é reconhecimento
Pra quem viveu satisfazendo
E acalentando coração
Aos meus irmãos ele ajudou
A todos ele encantou
Falo do nosso Frei Damião

Lá, seu Dotô, a natureza é grandiosa
A passarada é majestosa
A geografia é imponente
No meu quintal, tem um sertão
No meu terreiro, um ribeirão
Cheio d’água salgada e quente

Tem mata fechada e caatinga
Por toda casa muitos climas
Uns mais quentes, outros mais frios
Paisagens maravilhosas
Variadas, misteriosas
Deixa meu canto cheio de brio

E a cultura como será?
Daquela pra se respeitar
Na minha casa é a maior
É o berço mais cultural
Que do sertão ao litoral
Tem o que há de melhor

Lá em casa tem ciranda
Maracatu e muitas danças
Nosso forró também é de lá
Tem o frevo pernambucano
O côco paraibano
E o axé pra se dançar

A dança do samba, lá ela nasceu
Aprimorou-se e cresceu
Até outros tomarem conta
Hoje é símbolo nacional
Dizem que é daquele local
Na verdade pegaram pronta

De lá de casa grande acervo saiu
Pra conquistar o Brasil
E mostrar arte de verdade
Jackson do Pandeiro, Dominguinhos
Dodô, Osmar, Oswaldinho
Seu Luiz Gonzaga, a majestade

Tem Virgulino Lampião
E o padre Ciço Romão
A quem o povo tem fé
Nomes de grande valia
Além da sábia poesia
De Patativa do Assaré

Lá, damos valor ao que é da gente
Importar coisa de fora, diferente?
Pra gente isso é um troço
A todos nós respeitamos
Jamais nos envergonhamos
Daquilo que de fato é nosso

Minha casa é esportiva
Tem muitas alternativas
De esportes que só tem lá
A argolinha, que é a cavalhada
E a nossa rica vaquejada
Que é pra na faixa o boi derrubar

O descanso lá é num alpendre
Se balançando numa rede
Numa madorna sonolenta
Ou debaixo de um juá
Logo depois que almoçar
Uma cabidela suculenta

Pamonha com queijo, ou pura
E também a rapadura
É essa a nossa comida
Mão de vaca bem temperada
Que beleza é uma buchada
E uma galinha bem cozida

Lá tem o arrumadinho
Do caranguejo, tem o casquinho
Bolo de macaxeira e de milho
Sarapatel, bolo de rolo
Baião de dois, pirão de ovo
Acarajé e o chambaril

Tem aguardente de cana
Licor de mel e de banana
Cajuína, a melhor que há
Tem a cachaça envelhecida
Com limão enriquecida
Que na guela faz queimar

Lá em casa é comum no dia dia
Grandes tecnologias
Que lá foram desenvolvidas
Sistemas de irrigação
Que fez crescer o sertão
E melhorar as nossas vidas

Seu Dotô, lá em casa tem emprego
Vem gente de fora pedir arrêgo
Por estar desempregado
Gente esta que empregava
E que antes massacrava
Os meus irmãos flagelados

Mas com a gente não tem pantim
Aqui se hospeda, pode vir
Temos um bom coração
Recebemos de braços abertos
O respeito aqui é certo
Ao povo de qualquer região

O seu Dotô tá bem pensando…
“Mas essa casa, onde fica?”
Lhe digo agora sem peitica
Que o sinhô já a conhece
Traçamos nosso destino
Meus irmãos são os nordestinos
E a minha casa é o Nordeste”

post image

Nilson Araújo e Maciel Melo

*Foto enviada pelo Nilson

Coletânea – Quebra pote 2

Colaboração do Lourenço Molla, de João Pessoa – PB

Dessa coletânea participam os seguintes artistas: Trio Mossoró, Trio Nordestino, Genival Santos, Bastinho Calixto, Antonio Barros, Ary Lobo, Anjos do Sol e Zé do X.

Direção artística de Oséas Lopes, composto exclusivamente por arrastapés, destaque para “Estou gamado” de Luiz Moreno, na voz de Ary Lobo.

Coletânea – Quebra pote 2
1974 – Beverly

01. Quebra pote volume 2 (Antonio Barros) Trio Mossoró
02. Alegria nossa (Severino Ramos / Antonio Bento) Trio Nordestino
03. Festa na vila (Genival Santos / Rocha Sobrinho) Genival Santos
04. Quadrilha em Mossoró (Bastinho Calixto / Oséas Lopes) Bastinho Calixto
05. Arrasta-pé no fuzuê (Antonio Barros / Alex) Antonio Barros
06. Foi tudo ilusão (Antonio Barros) Trio Mossoró
07. Meu Santo Antônio (Ary Lobo) Ary Lobo
08. São João iluminado (Dominguinhos / Anastácia) Trio Nordestino
09. Estou gamado (Luiz Moreno) Ary Lobo
10. Festejando a fogueirinha (Manoel Valentim / Marcos Valentim) Trio Mossoró
11. Na ponta do pé (Manoel Serafim / H. Amaral) Bastinho Calixto
12. A hora de brincar (Antonio Barros) Antonio Barros
13. Nem fogueira nem balão (Enock Figueiredo / José Cândido) Anjos do Sol
14. Festa na fazenda (Claudionor dos Santos) Zé do X

Para baixar esse disco, clique aqui.

Se estiver com dificuldade para baixar e descompactar os arquivos, tire suas dúvidas em nosso manual “passo a passo”, clique aqui.