O que seria o Forró Pé-de-serra?

*Texto enviado pelo Jairo Melo, de Vicência – PE

“A quantidade de gêneros musicais existentes no Brasil traduz a grande diversidade cultural de que nosso país faz parte. Isso se dá pela criatividade que o brasileiro tem não só de improvisar e fazer surgir coisas novas, como também, pelo famoso ‘jeitinho brasileiro’ em que algumas pessoas que têm grande capacidade e inspiração de criar novos gêneros, mas não se dão conta de tal virtude e se aproveitam dos já criados para se promoverem. Com isso, tomam espaço de quem é de direito tentando confundir o público para que estes lhes prestigiem como se fossem outros. Por isso a importância de diferenciarmos um gênero do outro dando nomes aos bois. Então nesse sentido, o que seria o chamado ‘forró pé-de-serra’?

Inicialmente convém observarmos que o grande mestre nordestino Luiz Gonzaga, é o criador do forró. No qual dentro desse gênero incluem-se vários ritmos, dentre eles: o baião (onde tudo começou), o xote, o xaxado (inspirado no cangaço de Lampião), o próprio ritmo forró, marchinhas matutas (são as quadrilhas). Ou seja, ritmos que têm base própria de condução musical. Invenções do grande “Lua” que, através da sanfona, juntou a zabumba e o triângulo, conquistou o Brasil e ganhou o mundo. E o ‘pé-de-serra’, onde entra nisso?

No tempo de seu Januário (pai de Gonzaga) faziam-se muitas festas na região do Araripe, que é uma região serrana, montanhosa. E os locais onde se faziam tais eventos eram, justamente, no início das subidas dessas serras, eram os chamados ‘pés-de-serras’. Daí a expressão ‘forró no pé da serra’, que hoje chamam ‘forró pé-de-serra’. Mas, na verdade, era o gênero forró que era tocado em um pé-de-serra.

Por volta de 1968, Gonzaga grava a música ‘Baião Polinário’, na qual já previa a tentativa de aproveitamento que alguns insistem em fazer. Na música ele diz:

‘…Colagem de som e verso
Modismo ao reverso
Sim, sinhô

Pode agradar, não discuto
Se tem balanço eu escuto
Mas foge ao meu inventário

Esse baião polinário
Pilantra, chibungo e sem cor…’

Na década de 1980 começam a surgir gêneros, que através das chamadas ‘bandas de forró’, vêm com uma base própria de condução musical, na qual não se identifica com o gênero forró. E isso vem se modificando a cada dia, chegando nos dias de hoje sem nada a ver com o famoso gênero nordestino. Começam, então a chamar tal ritmo de forró, onde deveriam criar um nome próprio para tal criação. Mas como o forró tinha seu espaço garantido como gênero exclusivamente brasileiro, os criadores do outro, queriam esse espaço, coisa desnecessária, já que o Brasil é riquíssimo e tem espaço para tudo. Com a invasão de espaço, inicia-se uma tentativa de diferenciação, onde taxam o forró de ‘forró pé-de-serra’ e o outro, de forró. Para confundir ainda mais o público, intitulam-se ‘forró estilizado’ por introduzirem instrumentos eletrônicos como guitarra, baixo etc. Ora, o próprio Gonzaga utilizou desses instrumentos, um exemplo disso é a música ‘O fole roncou’, mas na sua base de condução musical própria.

Dessa forma, concluímos que o forró é único, criado por um gênio que merece todo nosso respeito como cidadãos e, principalmente, no sentido musical. Então, é nesse sentido que devemos ‘dar nomes aos bois’, identificando cada um no seu devido lugar. O forró é o forró e os criadores dos outros gêneros têm de se valorizarem, pois eles têm o dom de inventar mais um gênero musical para a nossa cultura, e dar nomes às suas criações. Só assim, conquistarão seu próprio espaço e até mesmo realizando eventos nos pés-de-serras do Brasil.”

Apenas complementando a idéia do Jairo, contou-me Édson Duarte, que o nome ‘pé de serra’ consolidou-se bem na época do surgimento das bandas de forró e justamente na oportunidade de lançamento de uma coletânea, que recebeu o nome de “Forró Pé de Serra”, exatamente para definir uma nomenclatura, vista a real necessidade de diferenciar as tendências.

4 comments

  • Sebastião Celestino

    Pois é os caras-de-pau estão ganhando dinheiro em cima do nome FORRÒ. Nda contra o que eles estão tocando mas eles usar outro nome e va i a minha sugestão: “Bôrró” é borró porque isso que eles toca é o residuo do forró, a borra do forró, é “bôrró. Tire o nome de forró e as mulheres nuas que acaba com eles.

  • nilson araujo

    Gente, já disse e repito. Quanto mais falarem neles, mais divulgação vão ter.
    Falemos das nossas raridades, promessas, lançamentos. Divulguemos
    nosso forró, nossa música. Pronto!

  • JOSÉ LOBO JANUÁRIO DO NASCIMENTO

    JAIRO MELLO, RECEBAS OS MEUS PARABÉNS, PELOS O SEU COMENTÁRIO, PRA MIM É NOTA DEZ.
    POIS EU QUE TAMBÉM TENHO NO SANGUE, PARTE DA FAMÍLIA JANUÁRIO, EM RELAÇÃO AO MEU PAI, E LÔBO, POR PARTE DE MINHA MÃE.
    EU MI SINTO MUITO FELIZ QUANDO ENCONTRO UM COMENTÁRIOS COMO ESTE QUE VOCÊ FEZ, POR QUE É COM ELES QUE NÓS FORMAMOS UM CONHECIMENTO PARA DEFENDER, AS CULTURAS QUE MEXE COM O SANGUEM E O CORAÇÃO DAQUELES QUE NÃO SI ENVERGONHAM DA TERRA QUE NASCEMOS.
    ATENCIOSAMENTE,

    JOSÉ LOBO

  • JULIO CESAR DOMINGUES JR

    Sr(a)(o)s. muito bom dia, perdoe-me porém coloco a discurssão, acerca da expressão Forro-pé-de-serra, nome mencionado pelos matutos forrozeiros da epoca de Sr. Januario, pai de Luiz Gonzaga, pelos arrastar da sandalias de couro dos dancarinos das entoadas que lembrava uma serra(equipamento de corte SERROTE, VAI-E-VEM) assim como outras expressões COCO, BAIÃO, XOTE e até mesmo as QUADRILHAS mais conhecidas em todo território brasileiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *